A inquietude que corre pelas veias | A história do Kosmos

por Felipe Senise, Partner & Head of Strategy

 

A Ilumeo está completando 9 anos. E faz 4 anos desde que o Diego e o Otávio me convidaram para fazer parte da direção e sociedade da empresa. E é difícil lembrar de um dia desses últimos 4 anos que eu passei sem aprender algo. Ou melhor, sem ter que aprender algo.

Aprender está no DNA da empresa, mas eu sei disso com muito mais clareza hoje do que já soube um dia. E tem uma história que foi uma espécie de divisor de águas para eu incorporar de fato essa ideia.

Aconteceu no começo dessa minha história na Ilumeo, em uma reunião que fomos fazer com o pessoal de inteligência de mercado da Nestlé, para nos apresentarmos para eles. Papo todo foi super legal e eles encerraram com uma pergunta muito interessante:

– Vem cá, se eu tiver que te chamar para algum projeto, quando eu deveria te chamar?

Eu pensei por um breve momento e disse:

– Quando você tiver uma pergunta que não sabe muito bem como responder. A gente pode também não saber de cara, mas vamos estudar, recorrer à ciência, e te ajudar a responde-la da melhor maneira possível. E vamos gostar muito de aprender com isso.

Até pela pergunta ser incomum, a resposta não foi ensaiada. Não estava no script. Mas eu fiquei satisfeito e até surpreso dela ter vindo tão naturalmente. Hoje eu sei que essa é a resposta que a Ilumeo se pretende a dar sempre, em qualquer situação. Mas ali eu tinha só uma sensação, pelo pouco que tinha vivido na prática.

Passou o tempo e a Nestlé nos liga, dizendo que tinha uma pergunta daquele tipo para fazer. E realmente, ela era cascuda:

– Nós precisamos investir com mais precisão nossos recursos em pesquisa e desenvolvimento. Temos muitos relatórios de tendências, mas não nos sentimentos seguros nas apostas que devemos fazer. Como podemos prever qual tendência do mercado de alimentos nós deveríamos transformar em produtos?

Com um misto de vergonha e humildade [forçosa diante das circunstâncias, reconheço], respondi que não sabia. Mas que se eles me dessem um tempo, nós traríamos uma resposta, na forma de um projeto.

E o processo de estudar para apenas fazer a proposta foi enorme. Conversamos com um monte de gente, levantamos papers científicos, gastamos horas conversando. A proposta parecia o projeto em si, de tanto trabalho que tinha dado. E, com o tempo, eu passei a descobrir que isso não era uma exceção tão grande assim. É parte da nossa forma de trabalhar.

E, assim, nascia o Kosmos, o método de predição de tendências da Ilumeo.

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Fomos buscar inspiração em um método criado durante a segunda guerra mundial nas forças armadas norte-americanas. Para tentar entender os prováveis movimentos das forças oponentes, um painel de militares era submetido a diversas perguntas sobre o tema, em forma de escalas numéricas. Cada um deles respondia em segredo. Porém, na segunda rodada, as mesmas perguntas eram feitas, só que cada militar sabia a média das respostas de todos os seus pares. E, a partir desse estímulo, respondiam novamente as perguntas. E isso acontecia ainda uma terceira vez.

O objetivo é que as opiniões se tornassem cada vez mais consensuais, na medida em que o desvio padrão das respostas ia caindo. Assim, usando a inteligência coletiva com método, o exército americano reduzia o risco das apostas de onde alocar seus recursos no ambiente de guerra.

O método ficou conhecido como Delphi e é usado quando se precisa criar uma inteligência sem muitos dados existentes, buscando um consenso a partir daqueles que melhor podem dizer o que vai acontecer pela frente.

Com essa inspiração, desenvolvemos um método de coleta de informações prévio para alimentar o Delhpi e uma série de validações posteriores com outros públicos, para como tornar ainda mais concreta e precisa nossa predição.

Nunca tínhamos feito nada parecido e foi certamente um dos projetos com maior aprendizado de toda a minha carreira, pelo desafio constante de precisar desbravar um terreno desconhecido e aprender tanto na jornada, com toda a equipe que participou do projeto, inclusive a da própria Nestlé.

E assim eu aprendi uma lição importante sobre a Ilumeo, que eu nunca mais esqueci e tento colocar em prática todos os dias. Somos uma empresa que se move pela ciência, pela tecnologia e, sobretudo, por uma vontade quase visceral de aprender. Uma inquietude que corre nas nossas veias e nos mantém vivos.

O dia que formos uma consultoria apenas com produtos de prateleira, sem nada para criar, aprender ou desbravar, a Ilumeo não tem por que existir. A Ilumeo existe só na certeza do próximo desafio. Porque é isso que nos faz levantar da cama todos os dias, há mais de 9 anos.