O processo de tomada de decisão pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa. Mas o viés de resultados pode colocar tudo a perder
Tomar boas decisões é uma habilidade fundamental tanto para o sucesso pessoal quanto profissional. Decisões sensatas e lógicas em sua vida profissional podem impactar positivamente você, seus colegas e sua organização. Porém, este processo deve estar alicerçado por técnicas e estratégias eficazes, que ajudem você a melhorar suas habilidades. Além disso, deve estar isento de algo em particular: o viés de decisão.
Neste texto, você entenderá um pouco mais sobre análise de decisão, o viés de resultado e como tudo isso é importante para tomar decisões baseadas em dados. Para isso, usaremos como fonte o ótimo artigo “Are you a bad decision maker?”, escrito por Cassie Kozyrkov, Chief Decision Scientist da Google.
Então, vamos começar.
Viés de decisões: por que não avaliar a qualidade das decisões pelo resultado
Primeiramente, vamos entender do que se trata o chamado viés de resultado, e como ele pode influenciar você a tomar decisões piores. Na psicologia, o viés de resultado é considerado um erro de avaliação, com base em coisas que você não poderia saber na época. Não confunda viés de resultado com viés de retrospectiva (aquele em que você ajusta sua memória depois de aprender a resposta, dizendo “eu sabia o tempo todo” , embora você não soubesse).
Um bom exemplo de pensamento com viés de resultados aconteceu durante a pandemia de Covid-19, em diversos países. Na hora de avaliar as decisões do governo sobre as medidas a serem tomadas durante a pandemia, a diferença entre o público em geral e os profissionais de decisão é que o público (com viés de resultado) julgará o governo com base em “como as coisas acontecem”, enquanto os profissionais de decisão, não. O correto é que se julgue o governo com base no que era conhecido no momento em que as decisões foram tomadas.
É preciso entender que, no momento da tomada de decisão, não se sabia o que se sabe hoje. Por isso, é preciso fazer a análise sem perder a perspectiva. Para Kozyrkov, o viés de resultados atua como uma forma de irracionalidade em massa. Esse é o problema de analisar decisões políticas (ou não) em retrospectiva.
Portanto, não há sentido em avaliar uma decisão depois de observar o resultado. Não é possível mudar o passado. O que pode ser feito é esperar aprender algo que ajude você a tomar decisões melhores no futuro. É preciso questionar-se:
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Existe algum problema com a maneira como você aborda as decisões? Deve mudar seu processo de decisão na próxima vez?
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O responsável é incompetente? Você deve substituir o tomador de decisão por alguém mais qualificado?
Falácia da Conjunção e como aprender (de verdade) com os erros
Neste momento, já podemos concluir que evitar o viés de resultado é a regra de ouro da Análise de Decisão. A qualidade de uma decisão deve ser avaliada usando apenas as informações disponíveis no momento em que a decisão foi tomada. O restante deve ser desconsiderado.
Assim, no exemplo sobre a tomada de decisão de governos durante a pandemia de Covid-19, você deve se perguntar:
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O que esses líderes sabiam no momento em que tomaram as decisões?
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Quais eram seus objetivos?
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Eles colocaram uma quantidade adequada de esforço na resolução deste problema?
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De que forma eles utilizaram os dados disponíveis e racionalizaram suas suposições?
Em uma sociedade que tolera viés de resultados, os líderes e tomadores de decisões não serão forçados a se comprometerem com estratégias de decisões. Por exemplo: se o número de casos de covid-19 por dia for maior do que X, o governo fará Y. Além disso, é importante exigir que estas tomadas de decisões compartilhem os registros de como essas decisões foram tomadas. Só assim será possível pensar em qualquer tipo de responsabilização.
Agora, deixaremos a política de lado para focar no que isso representa para a sua empresa. Algo a ficar atento é a ideia de “aprender com os erros”. Sim, esta é uma coisa boa. Mas você não aprenderá nada com seus erros se diagnosticá-los de forma incorreta. Em outras palavras: talvez você nem saiba onde está errando.
Um exemplo disso é a chamada “falácia de conjunção”. Para entendermos este contexto, daremos o mesmo exemplo que Cassie deu em seu artigo:
Heather é canadense, gentil, amigável, inteligente e adora animais. Ela é consultora de sustentabilidade. Na faculdade, ela estudou matemática e psicologia. Ela gosta de fazer longas caminhadas e mora perto de várias trilhas.
O que é mais provável sobre Heather?
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Heather tem doutorado.
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Heather tem doutorado e tem um cachorro.
Se você escolheu a opção 1, você evitou a falácia da conjunção. A opção 1 é a melhor resposta porque a opção 2 oferece mais oportunidades de erro. Você pode entender melhor sobre este exemplo no artigo que Cassie escreveu sobre o assunto.
Em outras palavras, o que você precisa entender é que a opção 2 oferece a você uma chance extra de estar errado. O ideal seria escolher a opção 1, referente ao doutorado. Ou seja, quanto mais oportunidades você tiver para errar, mais cautela você deve aplicar. Infelizmente, nem todo mundo usa essa regra prática, preferindo tirar conclusões precipitadas, e apostando o futuro de sua empresa em meras suposições e estereótipos.
O problema deste exemplo é que Heather pode, sim, ter um cachorro. Porque ela adora animais. Mas isso não significa que a previsão foi feita com base em algo palpável. Você apenas teve sorte. Essa é a diferença entre sorte e habilidade. Quando tomamos decisões com base em suposições, a possibilidade de erro é maior. Saber se Heather tem ou não um cachorro era mais difícil do que prever que ela teria um doutorado. Essa é a questão.
Se não começar a praticar melhores hábitos de tomada de decisão, é provável que você:
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Ignore informações que desafiem suas crenças preexistentes, incluindo as que entram em conflito com seus estereótipos;
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Chegue a conclusões rebuscadas com base em estereótipos que “parecem certos”, apesar de serem injustificados por suas evidências;
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Ignore seu processo de decisão e foque demais nos resultados.
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Assuma o crédito se tiver a sorte de obter um bom resultado, mas culpe alguém se obtiver um resultado ruim.
O que fazer para tomar decisões melhores
Por fim, Cassie divide em seu artigo algumas dicas de como começar a tomar decisões melhores, baseadas em dados e informações concretas, evitando o viés de resultados. São elas:
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Onde houver incerteza, mantenha a mente aberta e tome medidas para reduzir o viés de confirmação.
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Evite tirar conclusões precipitadas, especialmente quando elas são mais elaboradas do que suas evidências justificam.
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Avalie decisões e tomadores de decisão com base apenas no que era conhecido no momento de sua decisão, ignorando o resultado.
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Avalie o risco antes que a decisão seja tomada e use a magnitude do risco para distribuir crédito ou culpa entre o tomador de decisão e fatores fora de seu controle.
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Não culpe os tomadores de decisão pelos resultados de suas apostas, mas culpe-os por fazer apostas inadequadas em primeiro lugar.
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Atribua culpa em casos em que um tomador de decisão demonstra habilidades de decisão ruins, incluindo: (i) colocar menos esforço do que o que está em jogo; (ii) assumir um risco excessivo; (iii) ignorar as informações disponíveis.
Conclusão
Em resumo, é possível entender que mesmo os melhores processos de tomada de decisão estarão comprometidos se houver viés de resultados ou viés de confirmação envolvidos. É preciso focar no que sabemos hoje, e no que sua empresa sabia no momento da decisão.
Empresas de turismo que investiram em mais contratações não tinham como saber os terríveis resultados de uma pandemia que duraria mais de dois anos. Não é justo e nem produtivo culpar os decisores quando fatores externos fora de controle prejudicam os resultados.
O que podemos fazer é analisar as informações que tínhamos no momento, e se algo foi ignorado. Se este é o caso, é preciso aprender com o erro e direcionar esforços para que as próximas decisões a serem tomadas não sejam responsáveis pelo fracasso, e sim pelo sucesso do seu negócio.