As comunidades de dados e seu impacto nas tomadas de decisões

 


Descubra o que são as comunidades de dados, como funcionam, quais os tipos e os benefícios de cada uma no processo de dados, tomada de decisões e colaboração entre equipes dentro das empresas.

 

Ao mesmo tempo em que mais e mais organizações adotam a análise de dados para melhorar seu processo de tomada de decisões, poucas conseguem, de fato, aproveitá-la. Isso porque extrair o valor real dos dados obtidos requer especialistas de diferentes áreas e ainda existem muitos obstáculos nesse caminho dentro das empresas. Por este motivo, as chamadas comunidades de dados podem ser uma solução, uma vez que criam um ambiente imersivo para seus membros e tornam a colaboração em torno de dados e análises efetiva entre eles.

 

 

Comunidades de dados e o que elas têm a oferecer

 

Conseguir fazer uma extração correta dos dados requer especialistas de diferentes áreas. Essas equipes são responsáveis por coletar, organizar e processar esses dados para produzir insights e relatórios que realmente ajudem a entender a realidade do negócio.

 

O problema é que nem sempre as equipes de dados possuem a perspectiva de negócio para entender quais são os resultados esperados, enquanto profissionais que possuem essa perspectiva não contam com as habilidades técnicas para mergulhar profundamente nos dados brutos.

 

É por isso que, quando falamos em análise de dados, é fundamental garantir que funcionários, contratados e fornecedores falam a mesma língua e consigam se entender a respeito do que precisa ser feito. Isso independe do departamento.

 

Na maioria dos casos, os obstáculos para uma comunicação eficaz dentro de uma organização incluem complexidade organizacional (muitos departamentos e divisões), informações descentralizadas, equipes geograficamente distantes, entre outros. Com a pandemia, esse último fator ficou ainda mais claro, apesar de algumas empresas terem aprendido e tido sucesso em um modelo de trabalho remoto.

 

Por todos esses motivos, as comunidades de dados podem ser a solução certa para aprimorar as práticas de gerenciamento de dados dentro das empresas. Isso porque elas criam um ambiente imersivo para seus membros, melhoram a colaboração em torno de dados e ajudam a alcançar análises mais efetivas. Mas, o que são exatamente as comunidades de dados?

 

O que são comunidades de dados?

Basicamente, as comunidades de dados são espaços que reúnem pessoas para colaborar em torno de interesses e objetivos comuns. E que, de alguma forma, envolvem o uso, manipulação ou processamento de dados. Dessa forma, os  envolvidos podem discutir projetos, solicitar ou fornecer ajuda, trocar ideias ou compartilhar recursos em tempo real.

 

Geralmente, os membros envolvidos são funcionários da organização, mas também podem ser especialistas ou fornecedores externos. Uma comunidade também pode ser multifuncional e contar com membros de diferentes áreas, como vendas, marketing, produto, dados ou TI, além de profissionais com diferentes níveis de especialização.

 

Outro ponto importante é que diferentes comunidades podem reunir diferentes funções e perfis, assim como possuir necessidades específicas em termos de colaboradores e recursos. Contudo, todos devem contar com ferramentas eficientes e fortes para garantir a melhor comunicação entre seus membros e atingir seus objetivos.

 

O resultado é que essas comunidades ajudam a aumentar a eficiência e a criatividade dentro da organização, a fim de gerar insights, entregar projetos com mais agilidade (e eficiência), melhorar processos ou trazer inovações para dentro da organização.

 

Diferentes tipos de comunidades de dados

Em geral, é possível identificar 4 tipos de comunidades de dados dentro das organizações, tendo cada uma diferentes interesses e desafios. São elas:

 

  • Especialistas em dados

São comunidades que reúnem especialistas técnicos em torno de seu tópico de especialização (machine learning, dataOps, MLOps, engenharia de dados, entre outros). Nesse caso, como existem alguns especialistas com habilidades raras dentro das organizações, a vantagem desta comunidade é maximizar as contribuições e trocas desses profissionais, que auxiliam uns aos outros em diferentes projetos.

 

  • Dados para negócios

Reúne usuários voltados para a visão de negócio, com o intuito de descobrir como alavancar os dados disponíveis para impactar sua área de especialização, como recrutamento ou RH, satisfação do cliente, previsão de vendas, entre outras. Assim, esses profissionais podem obter ajuda uns com os outros ou trocar ideias e insights a fim de aumentar a alfabetização de dados e a capacidade de dimensionar iniciativas ao longo do tempo.

 

  • Provedores de dados

Tem como função reunir usuários de negócios e técnicos, de dentro ou de fora da organização, em torno de fontes de dados diversas. Essas comunidades se alinham em taxonomias, definições e critérios de qualidade em seu domínio, e podem ser aproveitadas para solicitações de especialização em vários projetos.

 

  • Projetos de dados

Por fim, esse tipo de comunidade reúne todos os atores e colaboradores em torno de um determinado projeto. Embora este seja provavelmente o mais óbvio, é também o tipo de comunidade mais complexa em termos de diversidade. Elas garantem alinhamento com as expectativas da empresa, fazendo a união entre excelência técnica e prazos de entrega.

 

Embora sejam distintas entre si, todas essas comunidades permanecem complementares e interconectadas. Isso porque membros de uma comunidade de projeto de dados, por exemplo, geralmente também pertencem a pelo menos uma outra comunidade de especialização, podendo atuar como ponte para trocar insights e auxiliar na validação dos projetos.

 

Por que sua empresa deve considerar construir uma comunidade de dados?

Atualmente, a maioria das organizações vem adquirindo tecnologias para coletar, armazenar, processar e analisar dados. Isso permite realizar análises que podem auxiliar no entendimento do negócio. Contudo, muitas empresas falham em avançar para a industrialização, ou seja, alavancar dados de forma eficiente em insights acionáveis e que tenham impactos tangíveis na estratégia de negócios.

 

Afinal, uma análise avançada apenas tem valor se os funcionários fizerem uso desses resultados para tomar decisões que impactem o negócio. Portanto, o sucesso dos projetos de dados depende principalmente da capacidade de incorporar dados em processos operacionais e obter insights que possam servir de suporte para decisões futuras. Essa transformação requer uma forte colaboração entre as equipes e novos recursos de alfabetização de dados.

 

E é neste ponto que as comunidades de dados se mostram valiosas. Isso porque materializam esse tipo de abordagem, reunindo e animando pessoas em torno dos mesmos interesses e objetivos comuns, e construindo o contexto certo para o desenvolvimento de habilidades e alfabetização de dados.

 

Na internet, já é possível conferir diferentes comunidades de dados que surgiram e deram muito certo, tal como Kaggle, GitHub, TunedIT ou Codalab. Esses espaços reúnem milhares de membros para colaborar em vários tópicos, especialmente de dados e análises, e estão se tornando cada vez mais populares.

 

Benefícios das comunidades dentro das empresas

O segundo ponto a se observar são as verdadeiras vantagens que a criação de uma comunidade de dados pode trazer para qualquer empresa. Estar alinhado e trabalhar nos mesmos objetivos permite que a organização atenda às necessidades de negócios com muito mais rapidez, e ainda evite o desperdício de esforços. De acordo com o Gartner, a estimativa é que, até 2023, cerca de 30% das empresas aproveitem a inteligência coletiva de suas comunidades de análise, superando os concorrentes que dependem apenas de análises centralizadas ou autoatendimento.

 

Ou seja, do ponto de vista operacional, as comunidades permitem entregar soluções muito mais eficientes, dinâmicas e criativas, garantindo a qualidade, usabilidade e sucesso dos produtos ou serviços lançados. Além disso, de uma perspectiva de longo prazo, reunir profissionais proporciona efeitos duradouros dentro da organização, promovendo uma forte cultura de dados e o alinhamento em torno de algo ainda maior do que a empresa. Algo não tangível, mas extremamente importante.

 

Enfim, possuir comunidades de dados dentro de uma organização também é uma ótima oportunidade para promover a alfabetização de dados entre os funcionários. Isso porque, à medida que incentivam a comunicação aberta entre os membros (ou mesmo com especialistas externos), as comunidades são o lugar onde os funcionários podem aprender e fazer perguntas livremente sobre tópicos específicos. Além, é claro, de impulsionar a inovação dentro da empresa, permitindo um espaço onde tecnologia e a digitalização encontram mentalidades criativas, criando um ambiente de apoio para que surjam ideias e soluções inovadoras. Isso dá aos profissionais um senso de propósito. E proporciona às empresas uma vantagem competitiva gigantesca.

 

Um ótimo exemplo de comunidade de dados é da JP Morgan Chase, uma das mais antigas e bem-sucedidas instituições financeiras do mundo. A empresa criou sua própria comunidade a fim de nutrir uma cultura de dados entre suas equipes. Nesse processo, enfatizou-se três conceitos: imersão, feedback rápido e uma estrutura gamificada. Com base neste case, a engenheira de software da empresa de serviços financeiros, Heather Gough, compartilhou três dicas da comunidade de dados JP Morgan, durante a Tableau Conference 2019. Segundo ela, a comunidade criada pela empresa tinha as seguintes diretrizes:

 

  • Incentivar os envolvidos a desenvolver habilidades com qualquer tipo de dado;

  • Nem todo mundo chegará ao “topo da montanha” – e está tudo bem;

  • Priorizar o compartilhamento de conhecimento e habilidades de dados.

 

Ou seja, trabalhar para que todos os profissionais envolvidos na comunidade de dados tenham a capacidade de trabalhar em diferentes tipos de situações, ao mesmo tempo que deixa claro que “está tudo bem” não atingir a perfeição em tudo. Nem todos são especialistas em tudo, e é bom que seja assim. Por isso a importância do terceiro fator: compartilhar conhecimento das habilidades adquiridas, criando uma comunidade didática e aberta a dúvidas. É assim que um ambiente empolgante e seguro é criado. E é assim que as comunidades mais fortes se constroem.

 

Falando nisso… o que faz uma comunidade forte?

Se você deseja criar sua própria comunidade de dados, ou mesmo aprimorar as comunidades já existentes em sua empresa, deve lembrar que alguns fatores são extremamente importantes para fazer deste um ambiente criativo, dinâmico e que realmente gere resultados impactantes para o dia a dia do negócio.

 

A primeira coisa é lembrar-se que comunidades são feitas, principalmente, de pessoas. Assim, as melhores comunidades de dados fornecem acesso aos dados e apoiam seu uso com sessões de treinamento e assistência técnica, mas também criam um ambiente de entusiasmo por meio de programas como competições internas, reuniões e almoços em grupo, e atividades de aprendizado Essas trocas aumentam a confiança e também criam uma camaradagem entre as equipes.

 

No mais, é preciso oferecer um bom suporte de ferramentas digitais eficientes, a fim de remover atritos, impulsionar o engajamento e melhorar a adoção da comunidade pelos funcionários. Contar com um hub central facilita a conexão de qualquer lugar, além da consulta e compartilhamento de recursos, e da troca de ideias. A visibilidade de dados e informações também é importante para quebrar os silos entre as equipes e superar os limites geográficos (especialmente nos casos de trabalho remoto).

 

Por fim, é necessário ter diversidade entre os membros. Uma comunidade de dados formada por profissionais com as mesmas habilidades e experiências provavelmente trará ideias, soluções ou conclusões semelhantes. Portanto, o ideal é reunir um grupo diverso, com profissionais de diferentes níveis de experiência, conjunto de competências complementares, diferentes contextos de negócio e até mesmo vivências e experiências de vida diferentes. Tudo isso ajuda a criar uma comunidade de dados mais forte, que possa extrair novos conceitos e ampliar sua visão de negócio.

 

E é preciso fomentar o senso de propósito de suas comunidades. O engajamento é certamente um dos indicadores mais importantes para medir a satisfação no trabalho, muitas vezes indo além da remuneração. É preciso que as equipes sintam que possuem um propósito em comum, e a empresa deve fazer o possível para alimentar e desenvolver esse sentimento comum. Lembre-se: não se trata apenas do que você faz, mas “por que” você o faz.