Avaliação de imagem das marcas de vacinas contra a Covid-19

Pesquisa exclusiva da Ilumeo em parceria com a Sociedade Brasileira de Virologia revela o que pensam e qual o comportamento dos brasileiros em relação aos imunizantes que combatem a doença.

 

O fato mais esperado em todo o mundo desde o início da pandemia de Covid-19 foi a vacinação. No Brasil ela começou em 17 de janeiro de 2021 – 10 meses depois da Organização Mundial de Saúde ter decretado oficialmente o estado de pandemia. Isso é considerado um recorde! O que surpreendeu ainda mais foi o fenômeno das pessoas escolhendo qual marca de vacina preferem tomar. Os chamados sommeliers de vacina.

Isso nunca havia acontecido em outros campanhas de vacinação no país. O fato inédito motivou a Ilumeo a produzir a pesquisa sobre Avaliação de imagem das marcas de vacinas contra Covid-19, realizado em parceria com a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).

 

Principais aprendizados

Os resultados mostram que a maioria das pessoas se vacinaram ou querem se vacinar e não escolhem vacina, embora exista uma clara preferência por algumas marcas específicas, como a Pfizer e Janssen, que foram aplicadas em menor quantidade em comparação a CoronaVac e AstraZeneca. Entre as pessoas que escolhem as marcas de vacina, a CoronaVac é a menos preferida e a mais rejeitada.

Os chamados sommeliers de vacinas existem de fato e têm antecedentes em fatores como desinformação, negacionismo, recebimento de informações passivamente via fontes ou meios sem credibilidade e atribuem baixa importância à vacinação enquanto compromisso de saúde pública, fatores que vão muito além de uma discussão ideológica.

O grupo de negacionistas das vacinas leva mais em consideração a marca do que o grupo dos não negacionistas. Isso ocorre porque os negacionistas, ao não acreditarem nas vacinas, tendem a ter a marca como um norte, enquanto que os não negacionistas estão mais preocupados em simplesmente receber a vacina.

Inclusive, a ocorrência de reações adversas da vacinação causa mais preocupação entre os negacionistas, diminuindo a satisfação com já ter tomado uma dose de vacina. Inclusive para a CoronaVac, a preocupação é maior do que Pfizer e Janssen. Isso demonstra que a preocupação não é baseada em fatos, mas sim de um pré-julgamento sobre as marcas/vacinas.


Metodologia

O estudo aplicou o Delfos, metodologia proprietária da Ilumeo para gestão de marcas, com o objetivo de identificar o conhecimento da população sobre as vacinas, quais as preferências e atributos de marca que mais impactam numa possível escolha.

A pesquisa consultou 3.059 respondentes por meio de questionários online entre as datas de 21 e 30 de julho de 2021, em um público geral proporcional ao PNAD em nível de estado e Critério Brasil.

Perfil sociodemográfico das pessoas que responderam ao questionário

Perfil sociodemográfico das pessoas que responderam ao questionário

 

Os negacionistas

A pesquisa aponta que 11% dos respondentes alegam que não se vacinariam contra a Covid-19. Comparado à amostra geral, há mais pessoas que não pretendem se vacinar entre homens, com menores rendas e menos escolarizados. Também há mais pessoas na faixa etária dos 18 aos 24 anos.

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Desconfiança e medo dos efeitos da vacina

Os argumentos utilizados por quem nega a vacina são, principalmente, medo e desconfiança dos efeitos colaterais. Existe a percepção de que a produção das vacinas foi muito rápida, estão sendo testadas direto na população e não atingiram níveis de eficácias consideradas suficientes por essas pessoas.

Entre os motivos citados para a não vacinação há elementos de notícias falsas – as fake news – e desconhecimento básico sobre o funcionamento das vacinas. Essa mistura pode levar ao medo e a repulsa pelos imunizantes.

Porém, o estudo ressalta que a parcela da população que não pretende se vacinar é baixa se comparada àquela que não declarou que não pretende se vacinar. Além disso, há um percentual alto de pessoas que não rejeitam as vacinas aliado a um maior número que não prefere uma vacina em detrimento de outra. A população em geral quer sim se vacinar.

Algumas declarações feitas pelas pessoas que responderam ao questionário e que não querem se vacinar

Algumas declarações feitas pelas pessoas que responderam ao questionário e que não querem se vacinar

 

Interação entre perfil conservador e o negacionismo

No Brasil, se percebe uma relação entre negacionismo com visão política desde o início da pandemia. Atraso na aquisição das vacinas e a transformação disso em disputa eleitoral, o ênfase a “tratamentos” comprovadamente ineficazes contra a Covid-19 e o descrédito em pesquisadores foram algumas das polarizações observadas.

Inclusive, medidas de prevenção entre as pessoas e uma previsão mais otimista ou pessimista da evolução da doença e dos seus efeitos era distinto dependendo do partidarismo político das pessoas consultadas em pesquisas.

O estudo da Ilumeo, amparado totalmente em métodos científicos, mostra que independente do espectro político, a maior tendência em escolher uma vacina é dos negacionistas. A não preferência por uma vacina é maior para os não negacionistas. Isso é uma evidência da relação entre credibilidade da vacina e percepção de qualidade da mesma.

A rejeição segue a tendência da preferência: independente do espectro político, são os negacionistas que rejeitam determinadas vacinas e nesse público se encontram os sommeliers. A CoronaVac é a vacina mais penalizada em rejeição.

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Fontes de informação

O estudo também mostra que a atualização de notícias por whatsapp sem uma fonte com credibilidade em conjunto aumenta a rejeição da vacina. Esse meio é conhecido pela facilidade de difusão de informações falsas, inclusive sobre as vacinas, o que pode desencorajar as pessoas de tomarem suas doses quando chegar o momento.

Respondentes que atribuem uma alta importância às opiniões de especialistas, como pesquisadores e cientistas, tendem a preferir menos as vacinas e ter um maior conhecimento. Quando atribui-se uma importância alta a fontes que não são especialistas, como amigos e família, observa-se a dinâmica contrária: embora o conhecimento seja semelhante, há maiores conversões a preferência.

Atribuída a opinião de pesquisadores

Atribuída a opinião de pesquisadores

Atribuída à opinião de amigos e família

Atribuída à opinião de amigos e família

 

Top of Mind

O estudo também apresentou uma pesquisa Top of Mind de preferência pela marca das vacinas. A CoronaVac é mais lembrada, demonstrando que é a principal referência em vacinas contra Covid-19 no Brasil. Além da colaboração do Butantã, uma instituição brasileira, em sua produção, a vacina aparece constantemente na mídia, o que influencia a lembrança.

As vacinas aplicadas no Brasil são as mais lembradas pelo público

As vacinas aplicadas no Brasil são as mais lembradas pelo público

 

Quando se fala de todas as vacinas que o respondente pode conhecer, AstraZeneca e CoronaVac empatam tecnicamente no primeiro lugar. Um resultado esperado já que as duas vacinas eram as mais aplicadas no Brasil até a data de fechamento do relatório.

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Quanto à preferência das marcas pelo público, percebemos que as marcas tem comportamento parecidos entre pares. CoronaVac e AstraZeneca possuem uma performance parecida entre elas, enquanto Pfizer e Janssen são próximas entre si.

 

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Duelos entre as vacinas

Na comparação de preferência entre as marcas das vacinas, foram apresentadas duas marcas que o respondente afirmou conhecer bem. O pedido foi para escolher uma delas e justificar em campo aberto o motivo da preferência. Janssen é a preferida, vencendo de todas as marcas com as quais duelou. CoronaVac perde de todas as vacinas que atualmente estão sendo aplicadas no Brasil.

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As pessoas que escolhem a CoronaVac alegam que é por conta do intervalo menor entre uma dose e outra, bem como a associação com o Brasil e Instituto Butantã ou o fato de já terem tomado uma dose. Há destaque para menores efeitos colaterais. As outras vacinas são vistas como mais eficazes e a possibilidade de uma única dose é positiva. Há menções à associação com a China como argumento desfavorável.

A AstraZeneca, quando preferida, é “apesar dos efeitos colaterais”. É uma vacina comprovadamente eficaz, inclusive com menções à variante delta, que muitas pessoas já tomaram e tem referências de conhecidos e familiares, sendo acessível. O intervalo entre doses é longo, o que favorece a preferência por dose única.

A Pfizer ganha a maioria dos duelos que participa e é percebida como eficaz, com menos efeitos colaterais e segura, com menções à possibilidade de ser aplicada em gestantes. Ser uma vacina de RNA mensageiro é visto como moderno e um argumento de preferência. A preferência por dose única aparece contra a Pfizer, bem como percepções de maior disponibilidade, confiança e eficácia de outras vacinas.

A preferência pela vacina da Janssen é muito clara: o fato de ser dose única é extremamente atrativo. Argumentos de eficácia, segurança confiança, ausência de efeitos colaterais são pontos favoráveis às outras vacinas.

 

Brand Equity

Para entender quais atributos pesam mais para a construção de marca das vacinas, foi construído um modelo de equações estruturais. Essa análise estatística identifica as relações de causa e efeito entre atributos de marca e caminhos de construção de Brand Equity. Este, por sua vez, atua como mediador, carregando os efeitos da construção de marca nas variáveis de resultado.

São dois os caminhos de construção de Brand Equity:

  • Identificação: é o grau de relacionamento entre consumidor e marca e a crença sobre o quanto essa marca se encaixa com a imagem que tem de si mesmo.

  • Qualidade: mede a crença de uma pessoa a respeito do grau de precisão e confiabilidade em determinada atividade.

Modelo de equação estrutural de Brand Equity

Modelo de equação estrutural de Brand Equity

Por fim, levando em consideração todo o modelo completo, temos o seguinte esquema:

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Os negacionistas levam em consideração a marca mais do que os não negacionistas, o que pode ser evidenciado por uma maior explicação (R²) em todas as variáveis.  Por não confiar em vacinas no geral, eles se apoiam na marca para fazer uma escolha, enquanto os não negacionistas apenas tomam a vacina que tiver. Outro destaque observado é que os negacionistas atribuem um maior peso aos efeitos adversos na satisfação do que os não negacionistas.

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Modelo não negacionista / negacionista

Outro ponto interessante é que para os não negacionistas, o Brand Equity é menor. A hipótese é de que pra quem confia nas eficácias das vacinas, a marca não importa muito. Já quem não confia, tende a ter a marca como um norte. Vale ressaltar que não negacionistas entendem que todas as vacinas (para Covid-19 ou outras doenças) podem causar efeitos adversos e a avaliação das vacinas nessa métrica não difere entre marcas, enquanto negacionistas avaliam CoronaVac e AstraZeneca como causadoras de mais efeitos adversos. Além disso, é notável como a satisfação dos não negacionistas é visivelmente superior. Provavelmente, para eles tende a importar menos qual vacina eles tomam, então se mostram de maneira geral mais satisfeitos com qualquer uma delas.

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Por fim, há uma análise da Sociedade Brasileira de Virologia que ajuda a explicar o fenômeno identificado no Brasil:

“O inesperado fenômeno jocosamente denominado de ‘sommeliers de vacinas’ surgiu, no Brasil como uma manifestação de cunho exclusivamente social e político. Essa é uma conclusão baseada no fato de que não há razão técnica disponível que dê suporte à escolha consciente por uma das vacinas para COVID19, dentre as disponíveis no Brasil, em detrimento de outra. Uma possível base aparentemente técnica para o surgimento deste fenômeno é a divulgação dos testes de eficácia de cada vacina, os quais indicam ao leigo diferentes níveis de proteção e eficácia aferidos. Os dados globais de eficácia da Vacina CoronaVac (Sinovac/Butantã), por exemplo, indicam percentuais de aproximadamente 60% de proteção. Já as vacinas vetoriais da AstraZeneca e da Janssen, indicam potenciais de proteção que variam de 65 a 80%. Por fim, a eficácia divulgada da vacina genética (mRNA) da Pfizer é de aproximadamente 90%. Mas exatamente o que estes dados representam e porque não podem ser avaliados de forma meramente aritmética? Em primeiro lugar, os dados globais de eficácia indicam, a grosso modo, o percentual aproximado de pessoas que não adquiriram a infecção no grupo vacinado em comparação com pessoas do grupo placebo, aferidos nos testes clínicos em seres humanos. Assim, à primeira vista, apenas 60% das pessoas que tomaram a CoronaVac estaria imune à infecção, enquanto 90% dos que tomaram a vacina da Pfizer estariam protegidos. No entanto, os principais indicativos clínicos dos estudos de eficácia incluem não apenas proteção contra infecção, mas também proteção contra Covid-19 grave e óbito. Neste aspecto, todas as vacinas emergencialmente licenciadas no Brasil apresentam percentuais semelhantes, variando de 85 a 100% de proteção. Em segundo lugar, os testes clínicos de eficácia de cada vacina foram feitos de acordo com protocolos próprios e relativamente diferentes entre si. O teste de eficácia da CoronaVac, por exemplo, teve como população alvo profissionais da área médica e da linha de frente de atendimento ao público. No ano de 2020, quando estes testes foram feitos, esta era uma população extremamente exposta ao SARS-CoV2. Já os estudos da Pfizer e da AstraZeneca, por exemplo, foram conduzidos em uma população mais geral e ampla, fora de grupos profissionais ou sociais específicos. Este aspecto, por si só, altera a exposição de cada população-alvo dos testes de eficácia ao vírus causador da Covid-19. Portanto, não é possível a comparação direta entre os percentuais aferidos, considerando que era de se esperar que uma população mais exposta apresentasse um número maior de casos de Covid-19 nos grupos, inclusive dentre os vacinados, o que impacta diretamente os percentuais de eficácia. Por fim, os testes clínicos também tiveram diferentes critérios de busca e identificação de infecção nas populações-alvo do estudo. Por exemplo, o estudo da vacina CoronaVac previa a testagem por meio de qPCR para Covid-19 de qualquer indivíduo participante do estudo que apresentasse apenas UM ou mais sintomas indicativos de possível infecção (sintomas tais como febre, OU coriza, OU mialgia, e etc). Já o estudo da vacina AstraZeneca previa a testagem dos indivíduos que apresentassem DOIS ou mais sintomas. Assim, o desenho experimental do teste clínico da CoronaVac pode ter sido capaz de detectar infecções que teriam passado despercebidas no estudo da vacina da AstraZeneca. Salienta-se aqui que a SBV não sugere que uma ou outra vacina seja melhor, ou que o desenho dos testes clínicos de uma ou outra vacina tenham sido melhores ou piores que os outros. A SBV sugere, apenas, que os estudos realizados apresentam diferenças fundamentais importantes, e que a comparação simplista dos dados aferidos não pode ser usada como referencial de similaridade e não-inferioridade entre as diferentes vacinas disponíveis. De fato, a Organização Mundial da Saúde já manifestou preocupação com a variabilidade de desenhos e critérios em cada estudo, e vem trabalhando em prol da elaboração de guias homogeneizados para a elaboração e execução de testes clínicos em todo o mundo”.