Dicas práticas e preciosas de como profissionais da área de Dados podem valorizar seu trabalho criando relações positivas com profissionais não-técnicos de negócios.
Dificuldades de relacionamento e comunicação entre os profissionais das áreas de negócios e dados não são raros dentro das empresas. Podemos dizer que é algo semelhante ao que ocorre, em determinados cenários, nos setores de Marketing e Vendas. Ao invés de ficar colocando a culpa no outro pelas dificuldades e trocando farpas mutuamente, o melhor é querer fazer parte da solução.
Por mais que defendamos muito que executivos de negócios precisam ganhar repertório sobre ciência de dados para conseguir imaginar melhores soluções e dialogar com as áreas técnicas, neste post vamos pegar a via inversa e trazer dicas de como os cientista de dados também podem contribuir para um diálogo mais produtivo com os profissionais de negócios e áreas não-técnicas de modo geral.
Vá além das linhas inimigas
A boa comunicação é como uma API entre Dados e Negócios, conectando as duas áreas para que as informações importantes circulem de forma eficaz e que faça sentido para ambos. E a chave de leitura para a documentação dessa API funcionar é a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro.
Faça um exercício de entender como é o mundo da pessoa com quem você vai conversar com mais frequência ou em uma ocasião importante, quais são as suas principais preocupações e que tipo de vocabulário usa. E você não aprenderá isso conversando apenas com cientistas de dados.
Por isso é importante sair da sua zona de conforto e ir a algumas reuniões de negócios. Pergunte às partes interessadas se você pode participar de uma de suas reuniões para entender melhor sobre o que é seu trabalho e seus objetivos. Observe como eles se comunicam, se dão mais importância para o produto final, para a reação dos clientes, para números e indicadores, etc. Colha essa percepção e fale na mesma língua deles quando chegar a sua vez, garantindo que sua mensagem seja percebida com mais eficiência e que é relevante no mundo deles.
Reserve algum tempo para ler as notícias do segmento da sua companhia, para aprender continuamente sobre os negócios, o mercado, os desafios, as novidades, a concorrência… Apenas uma hora de leitura por semana pode ter um bom impacto, tanto para a qualidade do seu trabalho quanto para se comunicar com mais eficácia.
Nem só de tecnologia vive o homem
Cientistas e profissionais da área de Dados tendem a ter um perfil bastante técnico nas áreas de programação, estatística e matemática. Mas é bom lembrar que as decisões que orientam os rumos empresariais são tomadas, muitas vezes, por figuras com o gerente de negócios. Então, quando perguntarem algo como: “No que você está trabalhando nesses dias?”, você pode dizer, sem pensar muito:
“Estou treinando um modelo de regressão logística nos dados de nossos clientes. A precisão é realmente melhor do que com Random Forest, mas eu tenho que fazer uma validação cruzada adequada agora”.
Está tudo certo você estiver conversando com outro cientista de dados, mas outros colegas podem ficar confusos. Neste caso, que tal “traduzir” o tecniquês para algo que esteja mais próximo da linguagem que ele conheça? Afinal, por mais que a alfabetização em dados seja importante, é preciso considerar essa dificuldade original. Tente algo como:
“Estou trabalhando em nosso projeto para prever a probabilidade de um cliente fazer compras repetidas para que possamos direcioná-lo com campanhas de e-mail personalizadas. Eu desenvolvi um método que dá uma boa precisão e estou trabalhando para validá-lo antes que possa ser considerado para produção”.
Com certeza isso muda o jogo, pois mostra que mais do que codar e criar modelos, você entende que seu trabalho é fornecer soluções para os problemas da empresa – e a área de negócios joga o mesmo jogo.
Tenhas as especificações na ponta da língua
Para manter uma boa interlocução com a área de negócios tenha sempre em mente os principais objetivos e especificações do projeto em que está trabalhando. Se for preciso, escreva-os em algum lugar de fácil acesso e certifique-se de que as suas ações técnicas estejam de acordo com estes pontos. Sempre que tiver uma reunião, use este documento como referência para checar se está no caminho certo, mesmo na ausência de algum gerente de negócios.
Além dos aspectos técnicos, essas especificações devem destacar:
Qual problema estamos tentando resolver?
(por exemplo: queremos impulsionar mais compras repetidas em nosso site).
Qual é o produto final?
(por exemplo: vamos gerar uma lista de usuários que identificamos como potenciais compradores recorrentes para que possamos direcioná-los com uma campanha de e-mail específica).
Como é o sucesso?
(por exemplo: pelo menos 5% dos usuários-alvo se engajam em uma nova compra no próximo mês).
Ter essa clareza sobre o que você está trabalhando torna mais fácil atender às expectativas do negócio, pois os dois lados da mesa estão comprometidos com o mesmo plano.
Crie um processo
Com uma meta bem definida com seus principais stakeholders, estabeleça um processo para atingir o objetivo final e medir o seu progresso. Você pode tentar algo assim:
Os principais marcos do projeto
Exploração de dados, fazer duas abordagens potenciais, otimizar o melhor dessas abordagens, gerar a recomendação.
Quando os marcos são alcançados
Permitir uma caixa de tempo ou quando um objetivo específico, como a precisão de um determinado modelo, for alcançado.
Quando atualizo meus stakeholders?
Quando cada marco é alcançado ou então semanalmente.
Com projetos de ciência de dados, nunca é possível saber exatamente o passo-a-passo até o final, pois depende do que encontrar no caminho, mas esse processo ajuda a não se perder do combinado e que o objetivo final seja cumprido com eficiência.
Mantenha contato frequente
É saudável se manter próximo da área de negócios no dia a dia. Não fisicamente, mas sobre os projetos em desenvolvimento. Isso mostra comprometimento e dá segurança ao outro lado sobre o andamento do trabalho e o seu desempenho e da sua equipe. Afinal, ninguém vai olhar – ou entender – seus códigos para saber em que pé o projeto está e também não há como adivinhar o que você está pensando ou trabalhando se você não comunicar.
Aqui sugerimos algumas formas de fazer isso:
Atualizações semanais
Reserve um horário na agenda para discutir o projeto, mesmo que não haja muitos avanços. Acostume-se a manter o status do andamento do projeto atualizado e seus pares avisados do que você trabalhou na semana e o que vai trabalhar na próxima. Fazer um alinhamento maior a cada duas semanas também pode ser uma boa prática.
Atualizações de marcos
Se um marco importante foi alcançado envie uma atualização, como um e-mail ou aviso no canal de comunicação corporativo. Aqui você pode detalhar o que foi feito até aqui e como isso o aproxima do objetivo. Lembre-se: traduza o tecniquês.
Informe problemas e escolhas
Se enfrentar uma situação em que uma escolha importante tenha que ser feita ou já tenha sido feita, informe seus stakeholders. Por exemplo: não processaremos clientes que ingressaram antes de 2015 devido a um problema de qualidade de dados. Importante documentar em algum lugar essas decisões, caso seja preciso voltar a elas posteriormente.
Peça ajuda
Se não tiver certeza sobre a decisão a ser tomada, entre em contato com seus stakeholders, explique o problema, quais são algumas das soluções possíveis e qual você acredita ser a melhor. Isso também vai envolvê-los no processo e eles se sentirão importantes ajudando a tomar as decisões. E, por mais que você saiba qual a melhor escolha, pode dividir essa responsabilidade em caso de desdobramentos futuros.
Visualização fácil
Se for mostrar um relatório ou fazer uma apresentação é importante tornar os dados fáceis de digerir. Sempre que possível, use gráficos, tabelas e outras representações visuais para que seu público tenha mais facilidade para entender seus dados. Além de tornar mais fácil prender a atenção deles, isso também tornará mais fácil para eles colocar os dados em uso no futuro.
No fundo, existem etapas simples que é possível seguir para garantir que as partes de negócios e de tecnologia estejam mais conectadas e, como vimos, isso tem pouco a ver com conhecimento técnico. São habilidades interpessoais e de gerenciamento de projetos, mas é possível avançar e começar a fazer pequenos movimentos neste sentido. Observando bons profissionais fazendo isso é possível aprender também, então preste atenção nos colegas à sua volta e perceba o que é saudável e o que é ruim e traga isso para você.
Então, agora lhe pergunto: em que você está trabalhando? Qual sua resposta? Se eu for o seu gerente de negócios, lembre-se de falar sobre seu progresso em relação ao objetivo, e não sobre a tecnologia 😉
