Pesquisa aponta que líderes com maior desempenho respondem e-mails mais rápido e se comunicam com mais freqüência. É apenas um exemplo das vastas possibilidades do campo de estudos da análise de redes organizacionais.
Algumas pessoas respondem e-mails quase instantaneamente, outras esperam um espaço de tempo disponível. Algumas precisam de um follow up para enviar uma resposta. Esses padrões de comportamento têm correlação com o desempenho no trabalho? Segundo Josh Bersin, reconhecido pesquisador da área de recursos humanos, um estudo sobre análise de redes organizacionais aponta para uma resposta positiva.
O estudo, realizado pelo MIT em parceria com a multinacional Genpact, analisou os padrões de comunicação de 650 líderes da empresa e detectou uma enorme correlação entre padrões de comunicação e altos níveis de desempenho. Eles descobriram que os líderes com melhor performance usam palavras mais simples para se comunicar, respondem mais rápido e se comunicam com mais freqüência. Em outras palavras, eles são mais engajados, mais eficientes e mais orientados para a ação.
Os pesquisadores usaram análise de redes organizacionais, uma técnica que mapeia profissionais de uma empresa e as relações entre eles. A ideia é que, ao entender “quem conversa com quem”, seja possível entender melhor como funcionam as organizações. Essas redes podem ser mapeadas, por exemplo, com dados sobre tráfego de e-mails, mensagens de texto e todo tipo de ferramenta de comunicação.
O gráfico a seguir mostra um exemplo de visualização de dados de análise de redes organizacionais.
No caso do estudo da Genpact sobre o padrão de envio de e-mails, a extração dos dados foi realizada com uma ferramenta do MIT chamada Condor, que converte dados brutos de comunicação em redes organizacionais. Os pesquisadores analisaram meses de comunicação com metadados do sistema de mensagens (ou seja, dados sobre as mensagens, não as mensagens em si). Em seguida, a equipe usou técnicas de Machine Learning e Deep Learning para encontrar correlações e criar modelos preditivos.
O estudo conseguiu demonstrar que certos tipos de comportamento de comunicação se correlacionam diretamente ao desempenho do negócio. Mais do que isso, o modelo consegue analisar os dados de comunicação dos funcionários e prever quem faz parte do grupo “Rockstar” (detentores do melhor desempenho) com 74% de precisão. Os integrantes desse grupo eram distinguidos por parâmetros como alcance de sua rede, velocidade de resposta e necessidade de follow ups.
Líderes com alto desempenho simplificam o trabalho
Josh Bersin afirma os resultados são lógicos. Líderes com alto desempenho devem construir relacionamentos sólidos em toda a empresa, uma vez que, quanto mais relacionamentos eles têm, melhor é seu desempenho. Além disso, o pesquisador lembra que muitos estudos mostram que as “conexões” definem o sucesso na maioria das empresas.
A Genpact também descobriu que os líderes “Rockstar” usam palavras mais simples, têm mais conexões diretas, e seus e-mails e comunicações navegam mais entre os pares. Em outras palavras, eles são mais focados, influentes e respeitados.
Ainda, esses funcionários reagem mais rapidamente. Eles são melhores no gerenciamento do tempo, por isso são mais responsivos – o que, por sua vez, lhes dá maior influência e impacto organizacional. Por consequência, outras pessoas respondem mais rapidamente às suas mensagens, novamente indicando impacto e reputação.
Análise de redes prevê pedidos de demissão
Em um segundo estudo, a Genpact identificou que os padrões de comunicação eram capazes de prever um pedido de demissão com seis meses de antecedência. Os funcionários que saíram da empresa estavam significativamente menos engajados em sua comunicação nesse período.
Segundo Josh Bersin, isso acontece porque frequentemente profissionais deixam uma empresa como resultado de muitos meses – ou anos – de frustração. Logo, os sintomas de insatisfação aparecem cedo. Portanto, se esses problemas são identificados no início, é possível abrir a comunicação e tentar repará-los antes que culminem em uma perda lamentável.
Outros estudos
A análise de redes organizacionais está crescendo vertiginosamente no mundo corporativo, segundo Josh Bersin. Na medida em que as empresas se tornam mais horizontais e mais interconectadas, os executivos querem aumentar a inovação, entender como as equipes trabalham, identificar os principais líderes e buscar maneiras de melhorar as vendas, o serviço e o desempenho operacional.
Bersin lembra o caso de uma empresa que descobriu que times de vendas que trabalham de maneira mais hierárquica (com a administração envolvida em todos os negócios) tinham desempenho inferior àquelas que têm mais poder. Então, a empresa mudou a estrutura de gerenciamento.
Outra empresa descobriu que seus engenheiros com melhor desempenho participavam de mais reuniões e construíam mais relacionamentos. Isso levou a equipe de RH a reorganizar o prédio de engenharia e a mudar para longe o refeitório. Isso forçou os engenheiros a andarem mais e conhecerem outras pessoas da empresa.
Com a crescente facilidade de extração de dados sobre profissionais e suas relações, a análise de redes organizacionais se mostra um campo de estudos que pode gerar insights importantes para o melhor desempenho corporativo.